Gaspar, Afinal, Acertou em Alguma Coisa!

2013-11-07

Os números do desemprego são surpreendentemente positivos, mas resumi-los a um efeito de sazonalidade é mais do que uma injustiça, é demagogia. Agora, as melhores previsões apontam para um desemprego de 16,6%, duas décimas acima do número fixado pelo ex-ministro no Orçamento do Estado para 2013 conhecido em Outubro do ano passado.

A evolução do desemprego é tanto mais significativa quando a população empregada diminuiu em 135 mil face ao terceiro trimestre de 2013. Este facto é, por si só, um factor de pressão sobre o desemprego, o que valoriza ainda mais a descida deste indicador pelo segundo trimestre consecutivo quando medido em cadeia.

A evolução negativa da população empregada tem, seguramente, uma explicação mais relevante do que qualquer outra: a emigração, sobretudo dos mais jovens na vida activa, os que, apesar das elevadas qualificações, foram obrigados a sair do País, a procurar outras oportunidades. É o ponto crítico, muito negativo, de um inquérito ao emprego que está em linha com outros indicadores que mostram uma estabilização/recuperação da economia. E porquê? Porque quando um País perde o seu capital humano, esmaga o seu potencial. E quando esse País não tem capital financeiro nem capital humano, não tem quase nada.

Sobra, apesar de tudo, uma dinâmica do mercado de trabalho que não é explicada apenas pela sazonalidade. Há um ano, no terceiro trimestre de 2013, havia sazonalidade, e mais gente empregada. A tendência tem de ser, ainda, confirmada nos próximos trimestres. Mas fica claro que a capacidade de ajustamento do mercado de trabalho em Portugal é mais sensível, e rápida, do que se poderia supor.

Talvez as empresas tenham feito despedimentos e rescisões amigáveis superiores às necessidades, e estejam agora a corrigir o tiro, talvez os sectores de exportação estejam a responder melhor do que o esperado, talvez o turismo esteja a beneficiar das crises políticas e dos conflitos em outras zonas do globo que são concorrentes do mercado português. Talvez sejam estas explicações todas somadas, e mais algumas ainda difíceis de determinar. Seja como for, são números que criam uma expectativa no mínimo positiva para incentivar a recuperação de outro indicador crítico para uma viragem de ciclo económico: o investimento.

Diário Económico

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